E confesso, irrita-me solenemente o discurso moralista e paternalista dos que vêm a terreiro “aconselhar” e “avaliar o tom” dos outros, sem terem a coragem de tomar posição perante os temas efectivamente em debate público.
Vem isto a propósito do artigo de Augusto Ferreira da Silva no Praça Pública titulado Que tipo de democracia queremos para Ovar?
O autor apresenta-nos uma tese que, ao contrário do prometido no início da sua prosa quando afirma que vai directo ao assunto, surge afinal de forma não explícita, que é basicamente a seguinte: aqueles que o autor considera que são os “melhores” (que não são nem de segunda nem de terceira linha, veja-se) não devem ser objecto de críticas públicas porque isso enfraquece a democracia e só promove a mediocridade. Aos “homens de boa vontade”, classificados como tal pelo autor, não devem ser dirigidas apreciações “tortas e cegas” porque pode abafar a vontade dos promitentes futuros governantes locais.
O autor apresenta-nos uma tese que, ao contrário do prometido no início da sua prosa quando afirma que vai directo ao assunto, surge afinal de forma não explícita, que é basicamente a seguinte: aqueles que o autor considera que são os “melhores” (que não são nem de segunda nem de terceira linha, veja-se) não devem ser objecto de críticas públicas porque isso enfraquece a democracia e só promove a mediocridade. Aos “homens de boa vontade”, classificados como tal pelo autor, não devem ser dirigidas apreciações “tortas e cegas” porque pode abafar a vontade dos promitentes futuros governantes locais.
Admito que o título da peça me entusiasmou. Pensei que iria ler um protesto público acerca do elitismo no funcionamento do jogo democrático e em particular nos processos eleitorais que estão a decorrer, esperando uma defesa categórica de uma maior participação dos cidadãos e das comunidades locais nas questões que dizem respeito ao bem comum. Que democracia queremos nós em Ovar? , esperava eu, mais participada, mais clarificadora das opiniões e posições, com maior envolvimento das populações locais nos debates e na construção de propostas, mais séria, mais viva!
Mas não. O autor vem fazer avaliação de pessoas e vem fulanizar as questões da democracia numa base francamente muito pouco interessante. Distribui os seus vaticínios “considerá-lo rigoroso e competente”, fazem dele “belos comentários”, mas não assume nenhuma posição sobre questões centrais do debate público como é caso das posições dos candidatos face a determinadas plataformas ideológicas e políticas. Mas então não será saudável, em nome da democracia, interpelar um dirigente de um partido político que durante anos andou a afirmar publicamente determinadas linhas programáticas (e até foi eleito nessa base) ao mudar de quadro político para efeitos eleitorais seja questionado (numa base ideológica e política, e não de ataques pessoais como é afirmado) sobre essa mudança tal radical? Isto é negativo ou positivo para uma democracia? Não está em causa o direito de mudar, como é óbvio. Estará em causa a clarificação de posições. E a polémica pública nessa base é não só desejável como determinante para uma democracia participada baseada na cidadania activa.
Mas então o que justificará esta defesa tão veemente dos “melhores que poderão surgir em qualquer zona do espectro partidário”, como nos é proposta no artigo?
Essa resposta encontramo-la de forma muito sub-reptícia na primeira parte do artigo quando se afirma “acerca das governações camarárias, já começamos a ficar fartos quando apontamos uma série de erros às presidências passadas” ou seja, afinal o posicionamento ético e moral e “clean” da democracia ovarense tem uma finalidade política não confessada no seu autor.. Pena é que Maalouf tenha sido mobilizado para causa tão enviesada. Ele não merecia. Talvez ele também (dos livros dele que li e conheço) prefira o Poeta d´Orpheu. E tudo.
12 de Setembro 2009
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